A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada em 9 de julho de 2025, gerou uma onda de reações no Brasil. Trump justificou a medida como uma resposta à suposta “perseguição” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, além de críticas às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação a política de censura das plataformas de redes sociais com sede nos Estados Unidos e à política externa do governo Lula, especialmente o alinhamento com os BRICS.
No cenário nacional, o Partido Liberal (PL), legenda de Bolsonaro, mobilizou-se para culpar o governo petista e o STF, acusando-os de provocar a crise diplomática com posturas que, segundo eles, desrespeitam a Constituição e afrontam os pilares da democracia. Contudo, em Sergipe, a reação foi surpreendentemente distinta, com um silêncio notável por parte dos parlamentares do PL, enquanto apenas políticos do União Brasil se manifestaram em defesa de Trump e Bolsonaro.
Em Sergipe, o PL possui uma bancada de 3 deputados estaduais sendo eles Netinho Guimarães, Marcos Oliveira (atual presidente do PL Jovem estadual) e Pato Maravilha. Nenhum deles se pronunciou sobre a taxação americana. O único deputado federal do PL, Ícaro de Valmir, também seguiu a mesma estratégia dos colegas de partido. No âmbito de Aracaju, apenas a vereadora Moana Valadares tem abraçado a linha de defesa seguida pelo PL Nacional. A prefeita Emília, que adota desde sempre uma postura cautelosa e distante do Bolsonarismo, não publicou nada em suas redes sociais. Da mesma forma, o vereador Lúcio Flávio, vice-líder de Emília na câmara. O deputado federal Thiago de Joaldo, que recentemente anunciou sua ida para o PL, também tem adotado o silêncio.
Essa ausência de posicionamento contrasta com a dos deputados da sigla em outros estados da federação, que lideram a narrativa de apoio a Bolsonaro e crítica ao STF, e também com a postura ativa de figuras do União Brasil em Sergipe, como os deputados Rodrigo Valadares e Luizão Dona Trampi, e do ex-deputado Capitão Samuel, recém chegado ao partido, que ecoaram a narrativa bolsonarista. Luizão, por exemplo, já havia defendido Bolsonaro em março, afirmando que o ex-presidente sofre “perseguição política” e que as acusações de tentativa de golpe são infundadas.
O silêncio do PL em Sergipe, presidido por Edvan Amorim – que busca emplacar seu irmão como candidato ao senado pelo partido nas eleições de 2026, pode indicar uma falta de alinhamento da liderança local ou uma estratégia cautelosa diante dos impactos econômicos da tarifa, que ameaça setores como o agronegócio e a indústria, cruciais para Sergipe.
Enquanto isso, a vocalização do União Brasil, um partido que nacionalmente tem adotado posturas mais moderadas e ao centro, sugere uma tentativa de ocupar o espaço político deixado vago pelo PL no estado. A defesa de Valadares, Samuel e Dona Trampi reforça a narrativa de Trump, que acusa o STF de violar direitos e Lula de isolar o Brasil com sua política externa. No entanto, essa posição ignora que os EUA têm superávit comercial com o Brasil, o que desmonta em parte a justificativa econômica (quando se desconsidera que a taxa de importação cobrada pelo Brasil para qualquer país, que é superior a 50% imposto por Trump) e aponta para um caráter mais político da medida.
A discrepância entre o PL e o União Brasil em Sergipe levanta uma questão central: está o PL local nas mãos certas para representar o bolsonarismo? A inação dos parlamentares do partido de Bolsonaro no estado, em um momento em que a base nacional do PL se mobiliza agressivamente, pode sinalizar desarticulação ou receio de apoiar uma medida que prejudica diretamente a economia brasileira. Enquanto o União Brasil assume a dianteira na defesa de Bolsonaro e Trump, o silêncio do PL em Sergipe sugere que o partido pode estar perdendo terreno em sua própria base, deixando o futuro da direita e do bolsonarismo em Sergipe incerto e sob questionamento.