O Senado Federal instalou nesta quarta-feira (29) a CPI do Crime Organizado, destinada a investigar a estrutura, expansão e modus operandi de facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de milícias, em meio à repercussão de uma operação policial no Rio de Janeiro que deixou 64 mortos. O requerimento, protocolado em fevereiro de 2025, obteve 31 assinaturas de senadores de diversas legendas, mas nenhuma veio da bancada do PT, partido do governo Lula, que conta com nove parlamentares na Casa.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder da legenda no Senado e membro titular da CPI, justificou a ausência de adesão petista alegando que o processo avançou de forma acelerada. “Quando fui assinar, o requerimento já havia sido protocolado, foi muito rápido. Nós até indicamos nomes e estamos concorrendo para participar da direção”, disse ele, minimizando a falta de apoio inicial e afirmando que não houve orientação partidária contra a instalação da comissão. 20 A declaração gerou críticas de oposicionistas, que veem na recusa uma tentativa de obstruir investigações sobre o crime organizado.
Ironia do destino: em setembro deste ano, o mesmo Rogério Carvalho protagonizou um episódio de atraso que beneficiou a oposição. Durante uma sessão da Comissão de Transparência e Combate à Corrupção, o senador chegou atrasado, permitindo que adversários aprovassem um requerimento para uma “mini-CPI” dos Correios, investigando supostas irregularidades na estatal. O caso, explorado por veículos como O Antagonista, expôs vulnerabilidades da base governista e custou caro ao Planalto em termos de agenda legislativa.
Diante desses episódios, questiona-se se os percalços de Carvalho configuram meros atrasos logísticos ou um padrão de descaso com pautas sensíveis ao governo. Com a CPI agora em curso, o PT busca reconquistar espaço na relatoria ou presidência, mas o episódio reforça o debate sobre a efetividade da oposição petista no combate ao crime organizado em um ano marcado por tensões políticas.

