Longe do conflito internacional entre Israel e Irã, um embate de grande repercussão política se desenrola em Aracaju. A prefeita Emília Corrêa (PL) enfrenta sua maior crise desde o início do mandato, impulsionada pela polêmica proposta da Loteria Municipal, a LOCAJU. O projeto não só dividiu opiniões, como também detonou um racha público entre dois vereadores de sua base: Lúcio Flávio (PL) e Isac Silveira (União Brasil), líder do governo na Câmara.
Durante uma sessão acalorada, Lúcio acusou Isac de má condução política do projeto, enquanto Isac retrucou, insinuando que o colega ambiciona sua vaga na liderança do governo. O que começou como um desentendimento pontual revelou tensões muito mais profundas e uma reconfiguração silenciosa nas alianças políticas de Emília.
Nos bastidores, comenta-se que a prefeita mantinha um acordo informal com o governador Fábio Mitidieri (PSD) para evitar a ascensão de adversários ao governo estadual em 2026. No entanto, a rápida ascensão de Thiago de Joaldo — que passou a ser cortejado por setores da direita em Sergipe como possível candidato ao governo — teria motivado Emília a romper com o grupo governista. A adesão de Thiago ao PL, anunciada pela prefeita ao lado de Eduardo Amorim durante um evento em Brasília, escancarou essa mudança de rota.
A crise se agravou com a tentativa da prefeita de conter críticas — inclusive vindas de aliados. Segundo fontes próximas ao governo, Emília tem lançado mão de uma ofensiva silenciosa para enfraquecer adversários internos. Isac, por sua proximidade com André Moura (presidente estadual do União Brasil) e com o próprio governador Fábio Mitidieri, tornou-se um alvo evidente.
Fontes afirmam que Isac já estaria com “prazo de validade” na gestão, o que sinaliza a disposição de Emília em sacrificar peças importantes do tabuleiro se isso significar fortalecer sua posição.
Paralelamente, Lúcio Flávio, atual vice-líder do governo, dá sinais de querer ocupar a liderança. Em publicações nas redes sociais, ele criticou a atuação de Isac e passou a curtir comentários de apoiadores que pedem a sua substituição na liderança.



Claro que Isac respondeu aos ataques, acusando Lúcio de tentar isolar a prefeita para viabilizar seu projeto pessoal rumo à Assembleia Legislativa em 2026. “Ele quer provar que é o único amigo dela. Tá pensando nele. Aracaju que se arrombe. A cidade que decline. O cara só pensa nele”, disparou Isac, revelando o grau de animosidade entre os dois.
A dúvida agora é: de que lado Emília ficará? O PL, partido da prefeita, e a coligação que compôs a sua chapa, conta apenas com dois vereadores — Lúcio Flávio e Moana Valadares —, enquanto sua base de apoio depende de partidos ligados ao governador e a André Moura, como o PSD e o União Brasil. Romper com Isac pode significar perder sustentação na Câmara.
A dúvida que fica é qual lado Emília tomará nessa briga. O PL, partido da prefeita, possui apenas 2 vereadores – Moana Valadares e Lúcio Flavio, os únicos eleitos na coligação que apoiou sua candidatura. Portanto, ela precisa dos vereadores de partidos ligados ao governador Fábio Mitidieri e ao presidente do União Brasil em Sergipe, André Moura, para ter governabilidade.
Além disso, o presidente da Casa, Ricardo Vasconcelos (PSD), aliado direto do governador, tem expressado insatisfação com o tratamento dado pela prefeita aos vereadores, acusando-a de manter uma “milícia digital” para atacar parlamentares. Isso coloca a relação entre o Executivo e o Legislativo em um ponto delicado, que pode gerar novas fissuras.
Mais do que uma proposta legislativa, a LOCAJU tornou-se o estopim de um realinhamento político em curso. Emília parece disposta a romper com antigos aliados e reconfigurar a base de apoio ao redor de seu novo grupo político, que mira nas eleições estaduais de 2026. A aliança com Thiago de Joaldo e Eduardo Amorim sinaliza um movimento claro para construir uma força alternativa à hegemonia do grupo governista.
Com a base fragmentada e em meio a uma guerra de narrativas, a prefeita precisa decidir se seguirá com seu projeto ousado de consolidar o PL como protagonista em Sergipe ou se recuará para preservar a governabilidade no presente.
Enquanto isso, Thiago de Joaldo emerge como uma ameaça concreta à reeleição de Fábio Mitidieri, e Emília Corrêa, ao centro do tabuleiro, mostra que está disposta a apostar alto. A disputa entre Lúcio e Isac é apenas o sintoma visível de um jogo muito maior — onde a LOCAJU é apenas a primeira cartada.