A recente mudança no comando do Republicanos em Sergipe, agora presidido pela prefeita Emíla Corrêa, traz questionamentos sobre a forma como a mídia e os comentaristas políticos reagem às mudanças no comando partidário em Sergipe revela um claro duplo padrão.
Quando o deputado Rodrigo Valadares — por meio da esposa, Moana Valadares — assumiu o controle do Partido Liberal (PL-SE), o caso foi tido como um escândalo: falaram em “golpe”, “centralização familiar”, “usurpação da sigla”. Já quando os irmãos Amorim e seu grupo — que inclue o prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho, e também a prefeita de Aracaju — tomam o comando de duas legendas, o Podemos e o Republicanos, tudo vira “negociação natural”, “reorganização” — normalidade democrática.
No caso de Rodrigo/Moana, a nomeação para presidir o PL no estado partiu da direção nacional do partido. Segundo informações de bastidores e declarações de Valmir de Francisquinho divulgadas pela própria mídia sergipana, a destituição de Edivan Amorim se deu por uma insatisfação do presidente nacional, Valdemar Costa Neto, com ações e posições do então presidente local. Ainda assim, a mudança provocou forte reação pública, críticas e acusações de nepotismo — como se o uso de vínculos familiares para ganhar controle partidário fosse um tabu. Por outro lado, Edivan Amorim, mesmo acumulando o comando de duas legendas e deslocando lideranças tradicionais como o deputado Gustinho Ribeiro — que historicamente conduzia o Republicanos no estado — não sofre o mesmo tipo de pressão. Sua tomada de controle é tratada como algo natural, parte do “jogo político”.
Esse contraste revela mais que parcialidade jornalística: demonstra como a palavra “golpe” se transforma em instrumento de delegitimação seletiva. Quando a sigla muda de mãos e o favorecido é considerado adversário, é golpe. Quando favorece quem está alinhado ao poder ou aos interesses de quem escreve — vira “arranjo político”. No contexto sergipano, a apropriação de partidos pela família Valadares incomoda. Mas a consolidação do grupo Amorim — com cargos, alianças, partidos — é vista com naturalidade e até como estratégia legítima.
Enquanto isso, o jogo de forças segue nos bastidores: controlar diretórios partidários significa definir coligações, decidir candidaturas, distribuir tempo de TV e fundo partidário — e, em última instância, quem terá voz nas eleições de 2026. A discrepância no tom da cobertura aponta que, para alguns, a democracia é questão de quem comanda, não de como se comanda.


