Não era só o Jornalista Carlos Ferreira, demitido em 12 de junho após um comentário negativo feito em redes sociais contra a deputada federal Yandra Moura (União Brasil)), o motivo da crise entre a prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL), e os vereadores que compõem sua base na Câmara Municipal.
Fontes ouvidas pelo Aracaju 24h apontam que assessores com forte influência nas decisões do Executivo, próximas de Emília, são o epicentro da crise que tem levado a saída de vereadores da base e a reclamações públicas vindas do líder do governo, Isac Silveira (União Brasil), e do presidente da câmara, Ricardo Vasconcelos (PSD).
A situação se agravou após declarações públicas do líder do governo na Câmara, Isac Silveira (União Brasil), e do presidente da Casa, Ricardo Vasconcelos (PSD). Em entrevista recente a rádio FAN FM, Isac disparou: “Falta gente que preste ao lado de Emília”, criticando abertamente a condução política da prefeita e afirmando que ela estaria “pessimamente assessorada.” Já Ricardo, ao ser questionado sobre quem seriam os responsáveis por minar a articulação política do governo, apontou o próprio Carlos Ferreira e outro personagem a quem chamou de “mago da política”, que se acha o mais inteligentem, sugerindo que este tem induzido Emília a erros estratégicos.
Quem é o “mago da política”?
Tais declarações reforçam as nossas pistas que apontam para dois nomes: Hugo Esoj, presidente da EMSURB, e Cícero Mendes, responsável pelo marketing da campanha de Emília e marido da atual secretária municipal de Saúde, Débora Leite.
Hugo, figura próxima da prefeita há anos, teve atuação destacada na coordenação da campanha de Emília em 2024, sendo responsável inclusive por ajudar na preparação das chapas de vereadores dos partidos que estiveram na coligação da então candidata. Ele também atuou na articulação da campanha de Eduardo Amorim (PSDB) ao Senado em 2022.
Apesar de ocupar cargo técnico, Hugo continua atuado como articulador político do grupo de Emília, o que tem causado incômodo entre vereadores e questionamentos por parte da população por ele parecer mais preocupado em fazer política do que cuidar dos problemas os quais o órgão que ele comanda é responsável, como a coleta de lixo e as praças abandonas.
Um dos episódios envolvendo Hugo que acentuou o desconforto entre aliados foi a divulgação, pela imprensa sergipana, de fotos de uma reunião entre ele e o deputado federal Thiago de Joaldo (PP) — realizada nas dependências da própria EMSURB. Além do uso do espaço público para fins políticos, numa das fotos divulgadas foram vistas anotações com uma possível composição de chapa para 2026, encabeçada por Thiago como candidato ao governo e Eduardo Amorim (PSDB) como candidato ao senado. O encontro foi interpretado como um gesto afrontoso por parte da base ligada ao governador Fábio Mitidieri e ao ex-deputado André Moura.
Da atuação de Hugo Esoj nessa articulação viria a expressão “mago da política” utilizada por Ricardo Vasconcelos. A acusação é que Hugo, usando da estrutura pública e de sua influência dentro da gestão, estaria trabalhando nos bastidores por um projeto de poder, alinhado ao PL estadual dos Amorns e ao grupo de Thiago, em detrimento da governabilidade e da articulação com os partidos que sustentam a gestão, contrariando também interesses de Mitidieri.
Além disso, a EMSURB tem sido alvo de questionamentos. O vereador Elber Batalha (PSB) apontou supostas irregularidades no uso de recursos da taxa de iluminação pública para o pagamento da última parcela da iluminação natalina de 2024, algo que contraria a legislação vigente. Também recaem sobre a autarquia denúncias de “rachadinha” ligadas a indicações do influenciador conhecido como Gordinho do Povo.
Cícero Mendes: o estrategista nas sombras
Já Cícero Mendes, embora não ocupe cargo formal na gestão, exerce forte influência como estrategista político. Foi o marketeiro de Emília na eleição de 2024 e também da campanha de Valmir de Francisquinho (PL) ao governo de Sergipe em 2022, quando Emília foi sua vice.
Sua influência se estende da gestão a decisões estratégicas tomadas pelo grupo político do qual Emília faz parte. Segundo o presidente da Câmara, Ricardo Vasconcelos, existe atualmente uma clara tentativa de intimidação de vereadores por parte de uma “milícia digital” que ataca aliados críticos. Nos bastidores, questiona-se se Cícero seria o responsável por essa Milícia.
Um governo cada vez mais político e cada vez menos técnico
Apesar do recesso parlamentar e do mês de julho, tradicionalmente mais tranquilo na política, as movimentações para 2026 seguem aceleradas. Emília tem deixado claro que sua prioridade é montar um grupo político competitivo. Ela já declarou, publicamente, apoio à pré-candidatura de Eduardo Amorim ao Senado. Além de exaltar suas qualidades, afirmou que foi dela a iniciativa de convencê-lo a entrar na disputa.
Ao focar suas energias em articulações eleitorais para o próximo ano tendo apenas 6 meses de mandato, a prefeita corre o risco de negligenciar temas urgentes da capital. Apesar da melhoria notória no transporte público, um dos principais temas da campanha de Emília, Aracaju enfrenta graves problemas em áreas como saúde, infraestrutura e urbanismo — e a insatisfação da população começa a ecoar nas ruas.
Ao ignorar os apelos da base aliada na Câmara, Emília pode comprometer sua própria governabilidade. A falta de diálogo com partidos como PSD e União Brasil pode resultar em derrotas políticas e emperrar projetos importantes.
Emília foi eleita com um discurso de renovação e antissistema, mas parece repetir os mesmos vícios que tanto criticou. Se continuar permitindo que assessores e figuras com interesses próprios deem prioridade ao projeto político do seu grupo, a prefeita pode se ver isolada, com aliados rompendo e projetos emperrados.
A gestão municipal, neste momento, parece mais focada em 2026 do que em 2025. O custo dessa aposta na formação de um grupo político para disputar com o governador pode ser alto — e quem pagará será a cidade de Aracaju.